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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Reflexões despertadas pelo discurso do Santo Padre na cerimônia de apresentação do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, no qual o Pontífice realça a importância das imagens na catequese, sobretudo para as novas gerações!



Deus fala aos homens também por meio de imagens. Serão elas apenas um acréscimo à mensagem transmitida pela Divina Sabedoria através dos textos sagrados? Ou são elementos indispensáveis para Ela fazer-Se mais conhecida pelos homens? 

À primeira vista pareceria que o texto escrito - da Sagrada Escritura e da Tradição - seria de si suficiente para nos dar esse conhecimento. Entretanto, analisando o procedimento de Deus ao longo da História, vê-se que, no tocante ao gênero humano, faz-se necessária a linguagem das imagens. E o livro da Sabedoria nos diz: "A grandeza e a beleza das criaturas fazem, por comparação, chegar ao conhecimento do seu Autor" (Sb 13, 5).
No Jardim do Éden
Deus criou Adão e Eva na imortalidade, e na posse do dom de integridade, concedendo a Adão a ciência infusa. E deu-lhes por morada o Paraíso Terrestre. Por quê?

A respeito do Éden não se conhecem muitos elementos. Porém, ninguém duvida de que as criaturas lá existentes - minerais, vegetais e animais - continham reflexos mais intensos de Deus do que as contidas no restante do universo criado. E assim o confirmam comentários de célebres exegetas.
SALA CLEMENTINA.JPG
Em 28 de Junho de 2005, Bento XVI apresentou o Compêndio do Catecismo durante uma
celebração litúrgica na Sala Clementina do Vaticano
Desse modo, Adão, em sua perfeição de natureza, bem como sua inseparável companheira Eva, tinham a possibilidade de serem verdadeiros contemplativos em meio às maravilhas ali postas pelo Criador. Com toda facilidade podiam elevar a mente até Deus a partir de uma visão imediata da pulcritude de todos aqueles seres. Muito mais do que aos homens concebidos em pecado original, estava a seu alcance constatar quanto "desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras", segundo a expressão de São Paulo (Rm 1, 20) .

Se Adão e Eva não tivessem pecado, o contato deles, como também de todos os seus descendentes, com a esfera sobrenatural seria comum e corrente no Paraíso. Através de quê? Das imagens."Ninguém se cansa de contemplar a glória de Deus", diz o Eclesiástico (42, 25).

Todavia - com tristeza para nós, ou, como considera a liturgia da vigília do Domingo da Ressurreição: "Ó feliz culpa, que nos mereceu tão grande Redentor!" - nossos primeiros pais pecaram, e sua primeira reação foi tentar ocultar-se ao olhar do Criador, como se isso fosse possível, bem como fugir das belezas do Paraíso, porque elas refletiam a perfeição de Deus.

Por isso, ao aparecer na brisa da tarde, o Senhor perguntou em alta voz: "Adão, onde estás?", como se Ele não soubesse... Muito pelo contrário, Adão se encontrava dentro do próprio Deus. Santa Teresa de Jesus afirmou que sentia seus cabelos se arrepiarem ao pensar que quando nós pecamos, pecamos de dentro de Deus.

Adão já tinha perdido a ciência infusa, e não se dava conta de que de Deus jamais se pode fugir. Este, porém, na sua 
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No final da cerimônia várias pessoas, represen-
tando as diferentes categorias do povo de Deus,
receberam um exemplar das mãos do Papa
infinita bondade, lhe perguntou onde se encontrava naquele momento, para estimular sua consciência a reconhecer o grave mal que tinha praticado.

Tendo pecado, ambos já não podiam mais permanecer no Paraíso porque não agüentariam contemplar os reflexos de Deus tão extraordinários que lá existem: essas imagens estariam como que os convidando a uma postura de espírito que exigiria deles um esforço fora do comum.
Patriarcas, imagens de Deus para os rudes homens de seu tempo
Nossos primeiros pais foram, então, degredados do Paraíso para esta terra de exílio. Assim, a humanidade segue seu curso, já não mais em meio às grandezas do Jardim do Éden, mas no barro que deu origem a nosso primeiro pai.

Como passou a se comunicar Deus com os homens? Em primeiro lugar, através de aparições, vozes interiores, inspirações, etc. Mas tudo isso era insuficiente, e por isso Ele enviou os Patriarcas, homens de virtude excelsa e personalidade robusta, de Fé inquebrantável como Abraão, de pertinácia infatigável como Isaac.

Muito mais que o céu engalanado de estrelas, a imensidão dos mares, o resplendor da aurora ou a majestade purpúrea do ocaso, os Patriarcas eram imagens de Deus para os rudes homens daquela época, os quais não tiveram conhecimento da civilização elaborada a partir dos méritos e dos efeitos extraordinários do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Juízes e Reis
Após os Patriarcas, Deus foi representado pela linhagem espiritual dos doze Juízes, o derradeiro dos quais, Samuel, teve o desgosto de ouvir do povo eleito esta exigência: "Dá-nos um rei que nos governe, como o têm todas as nações" (1 Sm 8, 5). Cometeram com isso uma infidelidade, mas Deus, compreendendo que necessitavam de uma imagem mais à altura deles, lhes mandou os Reis.

Entre eles eleva-se a figura extraordinária de Davi, que deu origem à Estirpe Real por excelência, a qual culminou no Rei dos Reis, intitulado Filho de Davi.

Refulgente também é a pessoa de Josias, que reinou 31 anos e "fez desaparecer as abominações de toda a terra dos israelitas e impôs a todos que lá se encontravam que servissem o Senhor, seu Deus" (2 Cr 34, 33).

Não menos admirável foi Ezequias, o qual "fez o que é bom aos olhos do Senhor, como Davi, seu pai. Destruiu os lugares altos, quebrou as estelas e cortou os ídolos de pau asserás" (2 Rs 18, 3-4).
Os Profetas, esses homens de fogo
Contudo, mais ainda do que pelos Patriarcas, Juízes e Reis, Deus manifestou- se aos homens através dos Profetas, homens de fogo que incentivavam o povo no tempo da fidelidade, invectivavam e ameaçavam nas épocas de apostasia, e orientavam nos períodos de intranqüilidade.

Esplêndida imagem de Deus foi, sem dúvida, Isaías, anunciando aos homens de todos os tempos e lugares, com 700 anos de antecedência, o maior acontecimento da História: "Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco" (Is 7, 14).
Figura quiçá mais fulgurante foi Elias, o qual se consumia de zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos (1 Rs 19, 10), que se levantou como um fogo e cujas palavras queimavam como uma tocha ardente (Eclo 48, 1). Tendo sido arrebatado ao Céu porque ardia de zelo pela Lei (1 Mac 2, 58), será mandado de volta à terra "antes que venha o grande e temível dia do Senhor" (Ml 3, 23).
O Verbo Encarnado, imagem perfeita do Pai
No entanto, Patriarcas, Juízes, Reis e Profetas não passavam de imagens imperfeitas que preparavam a grande manifestação de Deus aos homens: a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
CRISTO.JPG
A arte "fala" sempre acerca do divino, da beleza infini-
ta de Deus, refletida no ícone por excelência:  Cristo
Senhor, Imagem do Deus invisível ( ícone do Mostei-
ro Stavronikita de Monte Athos, Grécia)
O Verbo, que existe desde toda a eternidade e é idêntico ao Pai e ao Espírito Santo; o Verbo, "Aquele que é", em determinado momento quis se fazer imagem para poder estar ao alcance dos homens: "E o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1, 14). Por intermédio d'Ele reatou-se aquele paradisíaco convívio de Deus com os homens.

Ele veio trazendo revelações extraordinárias, jamais imaginadas até então em toda a História humana. Os próprios Anjos talvez se debruçassem nos "parapeitos" do Céu para ouvir as revelações feitas por Jesus aos homens.

Compreende-se que, após três anos de intenso convívio com Deus feito homem, os corações dos Apóstolos estivessem tomados por um ardente e místico desejo de conhecer a Primeira Pessoa da Santíssima Trindade. Filipe foi o porta-voz desse anseio: "Senhor, mostranos o Pai". A resposta de Jesus não poderia ser mais simples e mais real: "Filipe! Aquele que Me viu, viu também o Pai" (Jo 14, 8- 9).

Ou seja, se o Verbo não se tivesse encarnado, nem Filipe nem qualquer outro homem, por mais santo que fosse, poderia ter nesta terra uma imagem perfeita de Deus. Pois para tal não nos bastariam as Escrituras Sagradas nem as figuras imperfeitas dos Patriarcas, Juízes, Reis e Profetas.
Jesus fez infinitamente mais do que escrever
Jesus percorreu as cidades e aldeias pregando a Boa Nova, andou sobre as águas, transformou água em vinho, multiplicou pães e peixes, curou leprosos, restituiu a voz aos mudos, fez os surdos ouvirem, ressuscitou mortos...

Entretanto, não escreveu sequer um bilhete, menos ainda um rolo de revelações.

Não Lhe custaria multiplicar as cópias das Escrituras já existentes. Poderia também mandar os Discípulos escreverem de imediato suas doutrinas em rolos de papiro e multiplicá-los - superando mesmo, se assim desejasse, a produção de todas as impressoras fabricadas desde Gutenberg até nossos dias - para serem distribuídos às multidões.

Entretanto, Ele nada escreveu, nem multiplicou qualquer pergaminho, mesmo dos que leu tantas vezes nas sinagogas. Também não deixou instrução alguma quanto à redação ou utilização de textos relativos à sua vida.

Que fez Ele? Infinitamente mais do que tudo isso: na Última Ceia, instituiu a Sagrada Eucaristia, pala qual permanece conosco com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade.
E deixou-nos uma imagem viva de Si mesmo: a Igreja
Além disso, sabendo quanto os símbolos vivos são necessários ao homem para lhe dar o conhecimento de Deus, deixou-nos a Santa Igreja Católica, na qual sua fisionomia divina se reflete como num espelho. No ápice da Igreja, o Papa, o Doce Cristo na terra, a sucessão apostólica. Fez questão de nos dar também almas santas, como o Santo Cura d'Ars, do qual disse um advogado parisiense: "Vi Deus num homem". Ao longo da História, afirma São Roberto Belarmino, sempre existiram e continuarão a existir almas confirmadas em graça, imagens de Deus, para manter visível a santidade da Igreja.

Por fim, como o homem precisa valer- se dos sentidos para ter uma idéia mais próxima de quem é Deus, colocou Ele à nossa disposição esse meio poderoso de melhor o conhecermos e servirmos, que se chama Arte, nas suas ricas e variadas manifestações: Escultura, Pintura, Música, Teatro, Arquitetura, etc.
As palavras do Papa
Todas essas reflexões, nós as encontramos fundamentadas nas sábias palavras do Papa Bento XVI, pronunciadas em 28 de junho, no ato de apresentação do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica.

Disse o Santo Padre: "No texto foram inseridas também imagens. Esta opção tem como finalidade ilustrar o conteúdo
COMPENDIO.JPG
As imagens inseridas no Compêndio proclamavam a mesma mensagem
que a Sagrada Escritura transmite através da palavra
doutrinal do Compêndio: com efeito, as imagens ‘proclamam a mesma mensagem que a Sagrada Escritura transmite através da palavra, enquanto ajudam a despertar e a nutrir a fé dos fiéis' (Compêndio, n. 240)". Assim, saibamos todos nós, evangelizadores, utilizar em larga escala todo tipo de imagens, concomitantemente à pregação, se quisermos que nosso esforço alcance sucesso diante do público de nossos dias, especialmente em se tratando de jovens.

A isso nos estimula o Pontífice, ao afirmar: "As imagens e as palavras iluminam- se umas às outras. Pelo menos implicitamente, a arte ‘fala' sempre acerca do divino, da beleza infinita de Deus, refletida no Ícone por excelência: Cristo Senhor, Imagem do Deus invisível".
Não deixou Sua Santidade de expor seu autorizado ensinamento de Pastor Supremo também a respeito da importância das imagens sacras, de Jesus, da Virgem Maria, dos Anjos e Santos: "Com a sua beleza, as imagens sacras são também anúncio evangélico e exprimem o esplendor da verdade católica, mostrando a suprema harmonia entre o bom e o belo, entre a via veritatis e a via pulchritudinis".
Já na Introdução do Compêndio constam palavras escritas pelo Santo Padre quando ainda Cardeal, incentivando os catequistas a utilizarem o rico patrimônio iconográfico cristão: "Hoje, mais do que nunca, na civilização da imagem, a imagem sacra pode expressar muito mais que as palavras".
(Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2005, n. 44, p. 16 à 19)

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